Sindrome de Burnout – Quando o trabalho te esgota

Sindrome de Burnout  – Quando o trabalho te esgota

Tempo de leitura: 12 minutos

Nas últimas semanas a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou a nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11).

Normalmente essa notícia atrairia uma maior atenção apenas entre aqueles que trabalham na área da saúde. Dessa vez, porém, a repercussão foi maior.

O motivo? A mudança de classificação da síndrome de Burnout.

Incialmente a mídia e o público entenderam que a síndrome do esgotamento pelo trabalho finalmente passaria a ser classificada como doença.

A OMS, porém, emitiu nota afirmando que apesar da inclusão na CID, a Síndrome de Burnout ainda não é considerada uma doença.

A autoridade mundial em saúde considera o Burnout como um fenômeno relacionado ao trabalho.

Ainda assim a medida foi muito importante, definindo e explicitando as características e sintomas da síndrome, que no Brasil atinge cerca de 30% da população.

Esse dado – coletado pela International Stress Management Association (ISMA) em pesquisa divulgada em 2018 – impressiona e gera preocupação.

Trabalho e saúde uma relação delicada

Na antiguidade já se percebia os efeitos que o trabalho poderia ter sobre o corpo.

Na Grécia Antiga – berço da civilização ocidental – essa relação era tão evidente que o trabalho era reservado apenas os escravos.

O filósofo Aristóteles afirmava que “a escravidão de uns é necessária para que outros possam ser virtuosos”.

O trabalho era visto como atividade que massacrava corpos e impedia a busca pela própria perfeição e vida digna.

Essa visão negativa do trabalho permanece até o Renascimento, quando a atividade laboral passa a ser vista como uma manifestação da cultura.

É apenas com a queda da aristocracia e ascensão do estado de direito, contudo, que o trabalho passa a ser encarado da forma atual.

O trabalho não apenas dignifica o homem como ele é parte de sua identidade. É o papel que você representa no mundo.

Essa mudança de visão, porém, não significou o fim dos danos à saúde ocasionados pelo trabalho.  Pelo contrário.

A ascensão das fábricas e máquinas trouxeram novos riscos. Para minimizá-los ao longo de todo o século XX foram desenvolvidas legislações e medidas de segurança.

Mas se nos tornamos mais eficientes na proteção dos corpos, o mesmo não pode se dizer da mente.

A síndrome de Burnout e o trabalho

Durante muito tempo os transtornos e doenças ligadas às emoções e ao estado mental sofreram com visões preconceituosas.

“Frescura”, “coisa de gente doida”, “falta do que fazer”, “fraqueza”. Quem nunca ouviu algo parecido quando esse é o assunto?

No ambiente corporativo, marcado pela alta competitividade e obsessão por performance e metas, o quadro pode ser ainda pior!

Nas grandes corporações, ou você se adapta  e aguenta o ritmo, ou está fora.

Essa realidade vem mudando aos poucos.

Hoje a preocupação com a saúde mental e emocional dos trabalhadores é uma realidade em muitas empresas, mas ainda há muito que se fazer.

Prova disso é que no começo do artigo te contei o que quase 1/3 da população de nosso país sofre com a síndrome de Burnout.

É quase uma epidemia e mesmo assim pouco se fala sobre. O silêncio sobre esgotamento no trabalho é ensurdecedor.

Mas afinal, o que é síndrome de burnout?

Embora possa parecer à síndrome de Burnout não é um fenômeno novo. Foi descrita a primeira vez pelo médico americano Freundeberg em 1974.

Mas foi apenas com o aumento das ocorrências e casos pelo mundo nas ultimas décadas que passou a ser conhecida do grane público.

Mesmo assim a síndrome ainda gera muitas dúvidas e confusões, por isso sua inclusão no CID pela OMS foi um passo muito importante para enfrentar o problema,

Segundo a definição adotada na 11ª edição do CID o “Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”.

Quando somos expostos a doses cavalares de estresse diariamente em nosso trabalho e não somos capazes de “descomprimir”, nossa saúde está em risco.

O estresse é uma resposta natural de nosso organismo diante de alguns estímulos e foi fundamental para que a humanidade prosperasse quanto espécie.

Quando estamos estressados nosso corpo pensa que está  sob ataque.  Isso significa que ele irá liberar hormônios e substâncias químicas, nos preparando para lutar ou fugir.

Para os primeiros homens isso significava a diferença entre viver e morrer.

Hoje em dia ele ainda é importante, embora os perigos a que estamos expostos sejam outros.  É o estresse que muitas vezes dá aquele pique para concluirmos uma tarefa.

Quando o estresse ocorre em exagero e de forma constante, porém, seus efeitos são extremamente nocivos.

Seu corpo e mente não aguentam a pressão e o sentimento de esgotamento passa a ser inevitável. É como se sua bateria fosse apenas sugada e nunca recarregada.

A síndrome de Burnout é uma das consequências mais perigosas nesses casos, possuindo 3 características principais:

  • Sentimentos de esgotamento ou esgotamento de energia;
  • Aumento da distância mental do emprego, ou sentimentos de negativismo relacionados ao trabalho ou alguém;
  • Redução da eficácia profissional.

Ou seja: o estresse passa a te consumir e toda sua dedicação ao seu emprego passa a ter efeito contrário.

Você quer produzir mais, porém apenas fica desmotivado, sem foco, com maior propensão a erros e vê suas relações interpessoais ruírem.

Esses problemas ficam claros quando olhamos mais de perto os sintomas associados a síndrome:

  • Ausência no trabalho;
  • Agressividade;
  • Isolamento;
  • Mudanças de humor;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldades de concentração;
  • Lapsos de memória;
  • Ansiedade
  • Depressão;
  • Pessimismo;
  • Baixa autoestima.

Dores de cabeça, enxaquecas, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asmas e distúrbios gastrointestinais também podem estar associados ao Burnout.

Talvez você esteja pensando que esses sintomas podem ser encontrados em outros problemas de saúde. E você está certo.

Uma das maiores dificuldades do tratamento da síndrome é que ela ocorre de forma lenta e silenciosa. O indivíduo demora a perceber que há algo errado, ou quando percebe acredita ser outra a causa.

Por isso, nunca pratique o autodiagnostico e a automedicação. Se você sente que as coisas não vão bem, procure um médico.

Uma das formas de diferenciar o Burnout de outras doenças e transtornos, porém, é sua estrita ligação com o trabalho.

É o trabalho e seu ambiente que desencadeiam o estresse crônico que leva ao esgotamento.

Comportamentos como a compulsão por mostrar valor, a incapacidade de se desligar do trabalho e a negação das próprias necessidades (ficar sem comer ou dormir), já devem ligar o sinal de alerta.

E pensar que essas atitudes já foram vistas como sinônimo de “profissional produtivo”. Infelizmente em algumas culturas – regionais e corporativas – ainda é assim.

O Burnout e o mundo corporativo

É importante ressaltar que a síndrome de Burnout costuma se manifestar principalmente entre as profissões que exigem maior envolvimento interpessoal.

Profissionais da educação, da área da saúde, assistência social e da segurança estão entre as vítimas clássicas da síndrome. E ainda hoje são os principais atingidos.

Casos entre executivos, gestores e empreendedores, porém, também são comuns.

Esses profissionais do mundo corporativo vivem sob constante pressão e, nos últimos anos, viram as barreiras entre vida pessoal e profissional desaparecer.

O resultado? Os momentos de descanso, onde se poderia aliviar o estresse e recarregar as energias, passam a inexistir.

O corpo pode estar em um lugar incrível, mas a mente está sempre ligada no e-mail, nos aplicativos de mensagem, etc.

Se esse é o seu caso, é muito importante estar atento a si mesmo, percebendo os sinais de desgastes de seu corpo e sua mente.

Nenhum sucesso profissional vale a sua saúde.

Burnout na vida real

Para entender a gravidade da síndrome de Burnout, separei 3 casos de profissionais que enfrentaram o problema.

Andreia Mota:


O Boticário é uma das maiores marcas do Brasil, contando com milhares de franquias espalhadas por todo território nacional.

Em 2008, Andreia Mota foi nomeada como diretora executiva dessa gigante e se destacou pela capacidade de entrega de resultados. Com ela à frente, a  empresa cresceu e bateu metas.

Cinco anos após sua chegada ao cargo, porém, a executiva começou a sentir os sinais do cansaço de tanta dedicação ao trabalho.

Insônia, fadiga, mau humor, tremores faciais… O estresse era evidente!

Era dezembro de 2013 e Andreia acreditava que o esgotamento se devia apenas a correria e pressão do final de ano. Bastaria aguentar um pouco mais até as férias e tudo voltaria ao normal.

E foi justamente em suas férias que ela conheceu de perto a síndrome de Burnout.

Certo dia, durante o seu período de descanso a executiva acordou com um forte dor de cabeça. Sua mente parecia mais acelerada que o normal e não conseguia levantar da cama.

Sem entender o que estava acontecendo, Andreia resolveu tentar descansar um pouco mais. Algumas horas depois, porém, seus braços paralisaram!

Acreditando ser um derrame foi levada ao hospital rapidamente onde uma bateria de exames constatou que Andreia estava com a síndrome de Burnout.

A executiva recebeu tantos estímulos que os neurotransmissores de seu cérebro simplesmente pararam de realizar a sinapse!

Após um tratamento de emergência a base de antidepressivos e remédios para dormir,  as recomendações médicas foram claras: era preciso reduzir o ritmo e mudar seu estilo de vida.

Duas semanas após o acontecido Andreia estava de volta ao trabalho. Em um conversa com seus superiores explicou o ocorrido e suas necessidades.

Embora tenha conseguido reduzir o ritmo de trabalho, Andreia chegou à conclusão que não estava mais feliz com sua profissão, saindo da empresa em outubro daquele ano.

Referência: Revista Glamour

Matsuri Takahashi:

A cultura oriental é conhecida pela obsessão pelo trabalho e o respeito pela hierarquia, o que leva a algumas das jornadas de trabalhos mais longas do mundo.

No Japão há, inclusive, um termo que significa literalmente “morrer de tanto trabalhar”: Karoshi.

Um dos casos de Karoshi mais conhecido e relacionado à síndrome de Burnout é o de Matsuri Takahashi.

Aos 24 anos, Matsuri era uma promissora trainee da Dentsu, uma das maiores agências de publicidade japonesa, quando cometeu suicídio.

As investigações concluíram que a atitude da jovem foi motivada pelo excesso de trabalho a que vinha se submetendo.

Sem negar nenhuma tarefa que lhe era solicitada, Masturi chegou a fazer mais de 100 horas extras em um mês.

Um ano após o incidente o então presidente  da Dentsu pediu demissão do cargo e declarou que o modo de trabalho da empresa era inaceitável.

Referência: BBC News Brasil

Arianna Huffington:

Arianna Huffington foi fundadora e esteve frete à frente do Huffington Post, um dos maiores agregadores de blogues e portal de notícias do mundo.

Antes mesmo de sua bem sucedida iniciativa Arianna era uma conhecida comentarista política, concorrendo de forma independente ao governo da Califórnia em 2003.

Embora estivesse acostumada a pressão, as longas jornadas somadas à privação de sono cobraram seu preço em abril de 2007: Arianna desmaiou sem qualquer aviso de seu corpo em seu escritório.

A queda partiu o maxilar da executiva, e fez com que aos 56 anos ela repensasse sua relação com o trabalho.

Desde então, passou a se dedicar a promoção do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Em seu livro best-seller “A Revolução do Sono” a norte-americana se baseia em inúmeros estudos para mostrara importância de dormir bem e as consequências à saúde da privação do sono.

A própria Arianna já admitiu em entrevistas que antes de sua crise acreditava que o Burnout era inclusive necessário para o sucesso.

A executiva continuou como editora do Huffington Post até 2016, quando deixou a empresa que ajudou a fundar para se dedicar a sua nova iniciativa a Thrive Global.

A Thrive Global é um portal de conteúdos dedicados a promoção do bem estar e da felicidade e da redução do estresse e do Burnout.

Referência: Thrive Global

Você pode enfrentar a síndrome de Burnout! 

Como podemos ver a síndrome de Burnout pode ter severas consequências, levando, inclusive, à morte.

Mesmo nos casos mais leves ela é capaz de afetar severamente a sua qualidade de vida e a sua potência nas mais diversas esferas.

A boa notícia é que apesar dos níveis quase epidêmicos do problema no Brasil, é possível enfrentar e prevenir o esgotamento pelo trabalho!

No próximo artigo vou te contar como a mentoria pode te ajudar nesse objetivo, contribuindo para que você seja um profissional mais realizado e bem sucedido sem prejudicar a sua saúde!

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Até a próxima!

Com amor,

Leticia

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Postado por: leticiamadeira.com.br

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